Não me peças para fingir que não te conheço
"Tenho trinta e dois anos.
Vivo numa pequena cidade,
tão pequena que na verdade
é só vila.
Sou gay.
Sou gay
e isto não sou só eu que o sei.
Sei-o eu, os amigos que são meus,
os meus pais, a família,
os meus colegas, os meus vizinhos,
as pessoas na rua
e talvez, quem sabe, os passarinhos.
Se esta forma de viver, de me expor, é correcta?
Não sei!
- Não é uma forma muito directa?
É! Sou gay!
É a forma que escolhi de viver em sociedade,
de estar bem comigo e na comunidade
de não ter de mentir sobre aquilo que já senti
e de não ter de diminuir o que pode ser mais,
muito mais,
do que uma simples amizade.
Portanto não me peças para fingir que não sou
o que ganhei com dignidade.
Portanto pensa bem quando te dirigires a mim!
Não me venhas com pedidos
se eu não poderia ser menos ?assim assim?.
Se numa conversa de amigo, contigo
poderia ser menos para poderes falar comigo.
Se podia disfarçar o que sou
para que não se saiba com quem estou?
Não, não posso!
Querido, não me venhas com cenas.
Não passei o que passei
para chegar onde cheguei.
Não trilhei o que trilhei,
não assumi o que assumi
para agora me pedires
se eu um dia na rua te vir
fingir que não te conheci!
Os monstros que enfrentas também eu enfrentei,
os medos que tens também eu os tive
só que agora são exponenciados,
mas sabes que mais?
Injustificados!
Transformei a vergonha em dignidade,
transformei o medo em sexualidade,
o não ser em afirmação,
e as expectativas em mim depositadas
(por outros, não foram por mim criadas)
não se transformaram em desilusão
mas nas minhas armas da batalha
na vitória da minha aceitação.
Por isso não me peças para não ser o que sou
«I am what I am And what I am needs no excuses»
Sou o que sou
e o que sou não precisa de justificação, desculpas?
Portanto, amor, quando me vires na rua
não me peças para fingir que não te conheço.
Não preciso que te assumas,
não é isso que eu te peço,
mas ao menos tem coragem,
e terás o meu apreço,
de admitires que me conheces.
Se pensas que ao te esconderes se vive,
mentira, sobrevives!
É como se vive-se só metade,
metade mentira, metade verdade!
Claro que há espinhos,
claro que há amargos,
mas não estavas à espera
que a vida fosse feita de caminhos
rectos, direitos e largos.
É o amargo e o ácido
que dão sabor à terra e ao sangue,
que corre nas nossas veias,
que sustenta os nossos passos.
Por isso, por favor, não me peças
ou finjas que não me conheças,
porque se não tens a coragem
de conseguires justificar
porque tens um amigo gay
para que é que eu preciso de ti, como amigo,
francamente,
não sei!"
Poema de Simão Mateus
3 Comments:
o poema ta brutal
o que voces aqui fazem é inadmissivel... deviam era ter vergonha na cara. onde é que já se viu? o mundo com tantos problemas e voces a defenderem este tipo de gente! Valha-me Deus!
peço desculpa pelo comentário que aqui foi posto pela besta que anda a usar o meu nome para ver se me arranja problemas... de qualquer forma peço desculpa e peço que risquem essas palavras pois não são minhas embora estejam associadas ao meu nome.
Bom trabalho.
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