segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Campanha referendo: o verniz a estalar

- Do "Público" de hoje:
"Estamos todos a ser instrumentalizados". Caso o sim vença, Roberto Carneiro acredita que se vai abrir um dique: "A seguir virá a eutanásia e o casamento entre homossexuais. É bom que estejamos preparados para, se for preciso, morrermos como Jesus Cristo na cruz. Agora não nos deixemos levar nestas questões fracturantes".

Pois, já só faltava o comentário homofóbico nesta campanha.

Outro nosso conhecido, não pelas melhores razões no que diz respeito aos direitos LGBT, Luís Villas-Boas , acaba de se demitir do Movimento do Não do Algarve, por considerar que a campanha está demasiado radicalizada. O "Não" a fraquejar?

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

27 boas e verdadeiras razões para se votar sim no referendo do aborto


27 boas e verdadeiras razões para se votar sim no referendo do aborto


Porque é um direito a mais que conquistamos
Porque é um dever a menos que suportamos
Porque os países civilizados têm
Porque é sinal de modernidade
Porque a Igreja é contra
Porque é mais uma causa
Porque o Estado alguma vez é meu amigo
Porque é o principal problema deste país
Porque assim está-se mais à vontade
Porque, pela 1ª vez, se pode ter "desvios" sem impunidade
Porque temos que compensar as mulheres da violência doméstica
Porque assim controlo melhor o meu destino
Porque a barriga é minha e só lá está quem eu deixo
Porque já andamos nisto há uma porrada de tempo
Porque, ao menos, dão-me prioridade uma vez na vida.
Porque eu choro e os fetos não choram
Porque até fica bem no currículo
Porque eu não sei o que isso do amor maternal
Porque me convém
Porque eu não quero que eles saibam e nem quero assumir
Porque eu, mãe, quero vingar-me do pai
Porque é mainstream
Porque eu quero
Porque é da esquerda ou da direita moderna (neo-liberal)
Porque ele não fala nem vê e eu sou mais forte
Porque é mais um passo
Porque sim

5:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

15 QUESTÕES SOBRE O REFERENDO

1 - QUAL A QUESTÃO QUANDO SE FALA DE DESPENALlZACÃO DO ABORTO ?
Em 1984 legalizou-se o aborto em Portugal, mas os prazos dessa lei foram alargados em 1997. Nesse ano tornou-se legal abortar por razões de saúde da mãe até às 12 semanas ou até aos 9 meses no caso de perigo de morte ou grave lesão para esta, até às 24 semanas (6 meses) no caso de deficiência do feto, até às 16 semanas no caso de violação. O referendo de 2007 propõe que a mulher possa abortar até às 10 semanas nos hospitais e em clínicas privadas, com os serviços pagos pelos nossos impostos, sem ter que dar qualquer razão (por não estar satisfeita com o sexo do bebé, por exemplo), e inclusivamente contra vontade do pai da criança. De facto, trata-se duma legalização e liberalização do aborto.

2 - MAS QUEREM QUE AS MULHERES QUE ABORTAM VÃO PARA A CADEIA ?
Uma mãe apanhada a roubar pão para um filho com fome não vai presa, precisa é de ajuda, e lá por isso ninguém diz que o roubo deve ser legalizado e feito com a ajuda da polícia. É importante que as pessoas saibam que o aborto é um mal e por isso é punível por lei, mas as penas têm um objectivo pedagógico (colaboração com instituições de solidariedade social, por ex.), sendo a possibilidade de prisão, tal como no caso do crime de condução sem carta, considerado um último recurso. Há mais de 30 anos que nenhuma mulher vai para a cadeia por ter abortado e a ida a Tribunal (já muito rara) evita-se sem ter que mudar a lei. O importante é ver quantas vidas uma lei salva...

3 - O BEBÉ TEM ALGUMA PROTECCÃO LEGAL ?
A sociedade deve considerar que todos, e especialmente os mais fracos e desprotegidos, merecem protecção legal; mesmo na lei de 1984 este era o princípio base, no qual se abriam algumas excepções. A liberalização do aborto muda esse princípio base, como se a sociedade portuguesa dissesse que há seres humanos com direitos de vida ou de morte sobre outros seres humanos, admitindo que o mais forte imponha a sua vontade ao mais fraco sem que este tenha quem o defenda.

4 - DIZEM QUE O FETO AINDA NÃO É PESSOA E POR ISSO NÃO TEM DIREITOS…
Dentro da mãe não está com certeza um animal ou uma planta, está um ser humano em crescimento com todas as suas caracteristicas em potência desde o momento da concepção. Dependente da mãe, como estará durante muito tempo depois de nascer - pois se deixarmos um bebé no berço sem o alimentarmos ele morre - dependente como muitos doentes ou idosos. Será que por isso estes também não são pessoas, nem têm direitos? É por serem mais frágeis que os bebés, dentro ou fora do seio materno, os doentes e idosos, precisam mais da protecção legal dada por toda a sociedade.
Em 1857 o Supremo Tribunal dos EUA decretou que os escravos legalmente não eram pessoas e portanto estavam privados de protecção constitucional. Queremos fazer o mesmo aos bebés ainda não nascidos?

5 - E OS PROBLEMAS DA MULHER ?...
A suposta solução dos problemas dum ser humano não pode passar pela morte doutro ser humano. Esse é o erro que está na base de todas as guerras e de toda a violência. A mulher em dificuldade precisa de ajuda positiva para a sua situação. A morte do seu filho será um trauma físico e psicológico que em nada resolve os seus problemas de pobreza, desemprego, falta de informação. Para além disso, a proibição protege a mulher que muitas vezes é fortemente pressionada a abortar contra vontade pelo pai da criança e outros familiares, a quem pode responder que recusa fazer algo proibido por lei. Nos estudos que existem, referentes aos países onde o aborto é legal, mais de metade das mulheres que abortaram afirmam que o fizeram obrigadas.

6 - MAS A MULHER NÃO TEM O DIREITO DE USAR LIVREMENTE O SEU CORPO ?
A mulher tem o direito de usar o seu corpo, mas não de dispor do corpo de outro. O bebé não é um apêndice que se quer tirar, é um ser humano único e irrepetível, diferente da mãe e do pai, cujo coração já bate aos 18 dias, com actividade cerebral visível num electroencefalograma desde as 6 semanas, com as características físicas e muitas da personalidade futura presentes desde o momento da concepção.

7 - E QUANTO À QUESTÃO DA SAÚDE DA MULHER QUE ABORTA ?
Legal ou ilegal, o aborto representa sempre um risco e um traumatismo físico e psicológico para a mulher. Muitas vezes o aborto é-lhe apresentado como a solução dos seus problemas, e só tarde demais ela vem a descobrir o erro dessa opção. O aborto por sucção ou operação em clínicas e hospitais legais, pode provocar cancro de mama, esterilidade, tendência para aborto espontâneo, infecções que podem levar à histerectomia, depressões e até suicídios. O aborto químico (comprimidos), cujos efeitos sobre a mulher são em grande parte desconhecidos, quadruplica o risco da mulher vir a fazer um aborto cirúrgico. O trauma pós-aborto deixa múltiplas sequelas psicológicas durante anos.

8 - E QUANDO A MULHER NÃO TEM CONDIÇÕES ECONÓMICAS PARA CRIAR UM FILHO ?
Quem somos nós para decidir quem deve viver ou morrer? Para decidir quem será ou não feliz por causa das condições no momento do nascimento? O destino de cada um é uma surpresa, basta ver quantas estrelas milionárias do futebol vieram de bairros de lata. Deviam ter sido abortadas? Uma mãe com dificuldades precisa de ajuda para criar os seus filhos, abortar mantê-la-á na pobreza e na ignorância, o que só leva ao aborto repetido.

9 - MAS TEM QUE SE ACABAR COM O ABORTO CLANDESTINO...
, E verdade, temos mesmo é que acabar com o aborto, que ninguém pense que precisa dele, mas a despenalização não ajuda em nada à sua abolição. Em todos os países, após a despenalização aumentou muito o aborto legal (segundo a Eurostat, no Reino Unido 733%, por ex.), mas não diminuiu o aborto clandestino, pois a lei não combate as suas causas (quem quer esconder a sua gravidez não a quer revelar no hospital, por exemplo). E após os prazos legais regressa tudo à clandestinidade. A diminuição do aborto passa por medidas reais e positivas de combate às suas causas, e não há melhor forma de ajudar os governos a demitirem-se destas prioridades do que despenalizar o aborto. O que importa é ajudar a ver as situações pelo lado positivo e da solidariedade, e não deixar que muitas mulheres se vejam desesperadamente sós em momentos extremamente difíceis das suas vidas. É preciso que elas saibam que há sempre uma saída que não passa pela morte de ninguém, e que há muitas instituições e pessoas de braços abertos para as ajudarem, como as muitas dezenas delas que têm vindo a ser criadas ao longo do país e com o apoio dos vários movimentos “pela vida”.

10 –A DESPENALlZACÃO SERIA SÓ PARA AS MULHERES ?
Não. A despenalização abrange todos: médicos, pessoas com fortes interesses económicos nesta prática, pessoas que induzem ao aborto Pessoas que na lei de 1984/97 tinham penas muito mais pesadas que a
própria mulher. As leis pró-aborto abrem as portas ao grande negócio das Clínicas Privadas Abortivas e aos acordos para o Estado pagar esses serviços, enquanto os verdadeiros doentes esperam anos para serem atendidos sem terem direito a essas regalias.

11 - MAS A DESPENALlZACÃO NÃO OBRIGA NINGUÉM A ABORTAR...
Está prrovado que a despenalização torna o aborto mais aceitável na mentalidade geral, e por isso mesmo leva na prática ao aumento do número de abortos. A lei não só reflecte as convicções duma sociedade como também forma essa mesma sociedade. O que é legal passa subtilmente a ser considerado legítimo, quando são duas coisas muito diferentes.

12 - PORQUE SE PROPÕEM PRAZOS PARA O ABORTO LEGAL ?
Não há nenhuma razão científica, ética, ou mesmo lógica para qualquer prazo. Ou o bebé é um ser humano e tem sempre direito à vida, ou é considerado uma coisa que faz parte do corpo da mãe e sobre o qual esta tem sempre todos os direitos de propriedade. Os próprios defensores da despenalização sabem que o aborto em si mesmo é um mal e que a lei tem uma função dissuasora necessária, por isso mesmo não pedem a despenalização até aos nove meses. No entanto, é de perguntar porque é que até às 10 semanas mulheres e médicos não fazem mal nenhum, e às 10 semanas e um dia passam a ser todos criminosos.

13 - SEGUNDO A LEI O PAI DA CRIANÇA TEM ALGUM DIREITO OU DEVER NESTA DECISÃO ?
Não, o homem fica sem nenhuma responsabilidade, e também sem nenhum direito. A mulher pode abortar o filho dum homem contra a vontade dele. Quando a mulher decide ter a criança a lei exige que o pai, mesmo contra vontade, lhe dê o nome, pensão de alimentos e até acompanhamento pessoal, mas se decide não o ter o pai não pode impedir o aborto - fica excluído na decisão de vida ou de morte do seu próprio filho.

14 - O ABORTO É UM PROBLEMA RELIGIOSO, OU ABRANGE OS DIREITOS DO HOMEM ?
O aborto ataca os Direitos do Homem. O direito à Vida é a base de todos os outros. O direito de opção, o direito ao uso livre do corpo, o direito de expressão... todos os direitos de que usufruímos, só os temos porque estamos vivos, porque nos permitiram e permitem viver. Ao tirarmos a vida às nossas crianças estamos também a roubar-lhes todos os outros direitos. A Declaração dos Direitos do Homem explicita que estes são universais, ou seja, são para todos. Porque é que alguns bebés, só porque não são planeados, devem ser excluídos dos direitos de toda a humanidade?

15 - SER CONTRA A DESPENALlZACÃO NÃO É SER INTOLERANTE E RADICAL ?
Não, o aborto é que é totalmente intolerante e radical para com a criança, porque a destrói; não lhe dá quaisquer direitos, não lhe dá opção nenhuma. O "Sim" ao aborto tem em conta a posição dum só dos intervenientes, a mulher, pensando erradamente que a ajuda. O "Não" ao aborto obriga-nos a todos, individualmente e como sociedade, a ter em consideração os dois intervenientes. Ao bebé temos de proteger e de permitir viver. À mãe temos de ajudar para que possa criar o seu filho com amor e condições dignas ou para que o possa entregar a quem o faça por ela, através de adopção.

Cláudio Anaia

5:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu difundo e acompanho

Resposta ao apelo do Padre Mário de Macieira da Lixa


2007 FEVEREIRO 02

No último dia de Janeiro, estive em Braga, a participar numa conferência-debate sobre o próximo referendo, promovida pelo Movimento MÉDICOS PELO SIM. Pelo caminho, enquanto conduzia a carrinha, fui sempre à escuta do Espírito. À entrada na cidade, estacionei e permaneci dentro da carrinha a tentar pôr por escrito o que deveria dizer, quando me fosse dada a palavra. Como estava em Braga, pensei sobretudo nas minhas irmãs, nos meus irmãos católicos do NÃO. Senti que as minhas palavras deveriam dirigir-se especialmente a elas, a eles. E escrevi um texto em forma de carta-aberta. É esse texto, retocado e melhorado à medida que o digitalizava, que aqui partilho com alegria. E como eu gostaria que ele fosse lido por todas as mulheres, todos os homens em idade de votar no referendo do dia 11. Leiam e, se assim o entenderem, difundam-no.

Ao iniciar esta minha breve intervenção, aqui em Braga, nesta sessão promovida pelo Movimento MÉDICOS PELO SIM, saúdo cordialmente as minhas irmãs católicas, os meus irmãos católicos do NÃO. Ao mesmo tempo, envio-lhes um alerta que pode ser também um fraterno reparo em três/quatro pontos. Eis:

1. Se vão votar NÃO, porque pensam que a pergunta que vai a referendo dia 11 de Fevereiro 2007 é se somos a favor do aborto ou contra o aborto, então deverão reconhecer que estão enganados, porque a pergunta que vamos referendar, sim ou não, não é essa. Se fosse, também eu votaria NÃO. A pergunta é se concordamos com a despenalização das mulheres que porventura abortem nas primeiras dez semanas de gravidez. Por isso, eu voto SIM. Porque uma lei assim, que despenaliza as mulheres que abortem nas primeiras dez semanas de gravidez acaba de vez com a lei que está actualmente em vigor e que condena as mulheres que abortarem, mesmo naquelas condições, até três anos de prisão, depois de as ter humilhado publicamente num julgamento quase sempre mediatizado nos tribunais.

2. Mas vós, minhas irmãs, meus irmãos do NÃO, devereis ter em consideração um outro pormenor importante e, então, talvez passareis do NÃO ao SIM. É que com o vosso NÃO estais a dizer à Sociedade civil e ao Estado português que quereis que as mulheres que decidiram abortar nas primeiras dez semanas de gravidez continuem a poder fazê-lo apenas na clandestinidade; e, se são pobres e vivem em condições de degradação e no seio de famílias completamente desestruturadas, que continuem a fazê-lo apenas nas abortadeiras/habilidosas, com todos os riscos para a sua saúde e sempre com o medo de virem a ser denunciadas, presas e condenadas em tribunal. É isto que queremos para as mulheres pobres que decidirem abortar nas primeiras dez semanas de gravidez? Que elas o façam apenas nestas condições de desumanidade? Eu, por mim, não quero que semelhante situação de desumanidade se arraste por mais tempo e por isso voto SIM à lei que vai a referendo. Porque com a aprovação da nova lei, também as mulheres pobres que decidam abortar passam a poder fazê-lo (nunca serão obrigadas a fazê-lo e oxalá elas não queiram nunca fazê-lo!) nos estabelecimentos públicos de saúde ou noutros devidamente autorizados, o que é muito menos traumatizante para elas e muito menos perigoso para a sua saúde (ora, como sabem, as mulheres pobres também são pessoas, não apenas as mulheres ricas e com estudos para facilmente se desenrascarem em situações como esta de que estamos aqui a tratar, a duma gravidez indesejada e não assumida). Não quereis acompanhar-me neste voto SIM? Não vedes que o vosso voto NÃO acaba por ser cruel, já que condena as mulheres pobres que abortem (as ricas safam-se sempre, porque têm outros meios para isso) a fazê-lo apenas na mais abjecta clandestinidade e às mãos de abortadeiras/habilidosas?

3. Mas há outro pormenor que deveis ter em conta e que não posso calar por mais tempo. Com o vosso NÃO à lei de despenalização do aborto estais a impedir que as mulheres grávidas passem a estar no centro da decisão de levar por diante a gravidez, ou de a interromper, caso seja esta última hipótese a sua escolha, sempre dolorosa, indubitavelmente, e por demais difícil, mas a sua escolha. E porquê? Porque a lei que vai a referendo diz que só poderá haver aborto nas primeiras dez semanas de gravidez, nos hospitais ou outros estabelecimentos de saúde devidamente autorizados, por opção da mulher grávida. E este é, para mim, o aspecto mais importante da pergunta e da lei a referendar. Porque coloca as mulheres no centro da decisão. É por opção delas, não é por opção nem dos pais, nem do marido, nem do namorado, nem das amigas, nem da pressão social, nem do Estado, nem do pároco, nem do confessor ou director espiritual, nem do bispo, nem do papa. Apenas por opção das mulheres na condição de grávidas. É por isso que eu voto SIM. E gostava que todas as minhas irmãs católicas, todos os meus irmãos católicos me acompanhassem neste SIM.

4. E aqui tenho que fazer uma pausa e perguntar-vos: Sabeis porque a hierarquia da nossa Igreja católica – os bispos e os párocos – se mostra tão furiosamente contra a lei de despenalização do aborto? (eles preferem dizer que são furiosamente contra o aborto e evitam falar em despenalização do aborto, mas é a despenalização do aborto que vai a referendo, não a liberalização do aborto e muito menos a sua imposição; porque se fosse, também eu, como já disse, votaria NÃO, obviamente). Vou revelar-vos o segredo, nem que, por causa disso, os nossos bispos se zanguem comigo. A verdade é para se dizer e praticar, porque só a verdade, como diz Jesus, o do Evangelho de João, nos faz livres. Os nossos bispos, devido, sobretudo, à (de)formação clerical que receberam e da qual não querem abdicar, para não perderem o lugar nem os privilégios, não admitem, não podem admitir que alguma vez as mulheres estejam no centro de decisões tão importantes como esta que vai a referendo dia 11. Apenas eles, nunca elas! Como sabeis, sempre foi assim nos tempos da velha Cristandade Ocidental e na Idade Média. Mas não pode continuar a ser assim. Vede, por exemplo, o que eles – bispo de Lisboa, párocos de VN Ourém, confessores/directores espirituais – no início do século XX, fizeram com a pequenita Lúcia, de Fátima; como a meteram no Asilo de Vilar, no Porto, a levaram sequestrada para um convento na Galiza e, depois, não satisfeitos, ainda a meteram num convento de clausura, até ao fim dos seus dias, sem que a pobre alguma vez pudesse decidir sobre a sua vida e o seu futuro… É isto humano? É isto evangélico? É isto cristão jesuânico? Os bispos e os párocos acham que são os únicos que sabem o que as mulheres devem fazer ou deixar de fazer, em matérias tão delicadas como as da bioética. Como diz a nova novela das noites da RTP1, “Paixões Proibidas”, as mulheres não têm que pensar, saber, entender coisa nenhuma. Apenas têm que obedecer ao pai e, na sua ausência, ao irmão mais velho e, depois de casar, ao marido; finalmente, ao pároco, ao bispo, ao papa. Ora, é aqui que reside todo o valor evangélico e cristão jesuânico da pergunta e da Lei a referendar dia 11. “Por opção da mulher”. Os bispos e os párocos que estão em campanha pelo NÃO querem convencer-nos que isto é arbitrariedade, mas não é. Isto é Maioridade, é Liberdade, é Reponsabilidade. E só por esta via chegaremos a ter mulheres verdadeiramente adultas, livres, responsáveis. E só com mulheres assim, bem no centro das decisões que a elas dizem respeito, é que se dá glória a Deus e poderemos construir uma sociedade humana e sororal.

5. Finalmente, deixo-vos, irmãs católicas, irmãos católicos, mais uma revelação decisiva para mudardes o vosso voto do NÃO para o SIM. Já reparastes (infelizmente, não temos procurado ser católicos bem informados e andamos quase sempre muito distraídos do essencial) que o Código de Direito Canónico (CDC), da Igreja, ainda é mais penalizador contra as mulheres católicas que abortarem do que a actual lei do Código Penal português? Vede só esta barbaridade canónica: as mulheres católicas que abortarem ficam automaticamente excomungadas, portanto, fora da comunhão da Igreja! Nem é preciso o Tribunal eclesiástico proferir a sentença. É automático! Porém, se as mulheres católicas grávidas, para não serem excomungadas, decidirem levar a gravidez ao fim e, logo após o parto, matarem o bebé, já não sofrem qualquer sanção canónica. Cometem, obviamente, um pecado mortal de infanticídio, mas não sofrem nenhuma sanção canónica. Estremeceram com o impacto desta revelação? Mas a realidade é esta. E porquê esta sanção canónica contra as mulheres que abortam e não contra as mulheres que matem o próprio bebé acabado de nascer? Porque decidir levar a gravidez ao final ou abortar é uma opção que só as mulheres grávidas podem protagonizar. Mais ninguém. E para que nunca as mulheres sejam sujeito de opções de tanta monta, é que a hierarquia católica recorre à excomunhão, o que, reconheça-se, em tempos de Cristandade como eram os da altura em que o CDC foi publicado, era praticamente o mesmo que matar as mulheres por apedrejamento. Mas digam-me uma coisa, irmãs, irmãos: Sem mulheres desta estatura moral, capazes de optar em matérias de tanta monta, ainda se pode falar em mulheres? Ou apenas em coisas, ou em simples barrigas de aluguer?

6. Pensem nisto e votem SIM, como eu, para que a nova lei que vai a referendo seja aprovada. Com este voto SIM estaremos, como católicas, como católicos, a dizer também à hierarquia da nossa Igreja católica que altere o CDC e deixe de excomungar as mulheres que abortem, tal como o Estado português irá deixar de as penalizar com prisão até três anos, se a lei for aprovada, como espero.
Percam os medos, irmãs, irmãos. Pensem pela vossa cabeça. E decidam segundo a vossa consciência pessoal. Deixem de pensar e de decidir pela cabeça e pela consciência funcional do clero. Façam como eu que penso pela minha cabeça e decido segundo a minha consciência pessoal. E por isso voto SIM no referendo do dia 11. Quem de vós me acompanha nesta liberdade/responsabilidade?

Dou-vos o meu afecto e a minha Paz.
Mário, Presbítero da Igreja do Porto

12:18 da manhã  
Blogger Lady Chatterley said...

Tenho uma amiga com 40 anos que nunca conseguiu engravidar. Já
fez vários tratamentos, fertilizações,etc e sempre sem sucesso.
Numa discussão acesa sobre o aborto, do qual ela é absolutamente
contra e eu absolutamente a favor, cheguei á triste conclusão da razão
que leva alguns portugueses a votarem contra o aborto ou em defesa
da vida , da liberdade ou o que quer que lhe queiram chamar:
A HIPOCRISIA!!!
Passo a explicar:
Ao justificar a sua opinião, a minha querida amiga, argumentava que
não estava para pagar ás outras mulheres para fazerem abortos,
quando ela não conseguia sequer engravidar! Ao que eu argumentei,
inteligentemente, achei eu, que só voltaria a discutir este assunto com
ela, no dia em que ela tivesse a generosidade de adoptar uma criança.
Bem, a sua resposta foi, “Não vou ficar com o lixo que os outros
deitam fora!“... Ficaram chocados?! Eu também fiquei! Mas não por
muito tempo...resolvi dissecar as palavras da minha amiga.
Ela tinha toda a razão! Era o que mais faltava, a coitada ter que ficar
com o lixo dos outros! Verdade? Não é nada ético pensar assim, pois
não? Pois não!
Mas agora raciocinem comigo. Não são os portugueses os maiores
defensores do embrião, do feto, da vida?! Não é tão estranho, então,
que hajam crianças em instituições, abandonadas, com fome, sem
alguém que as ame incondicionalmente?
Então, quando saem da barriguinha da mãe já não são vidas a
proteger?
Pois...uma criança dá trabalho, não é? Vamos pedir as esses senhores
e senhoras por favor que dividam dinheiro, afecto e tempo, com essa
vidas que eles lutaram tanto para preservar! Ou será que agora que
estão fora da barriguinha das mamãs já são só mesmo o lixo que os
outros deitam fora?
Sandra Mendonça
mailto:sandrinhamm@gmail.com

1:06 da tarde  
Blogger Lady Chatterley said...

Tenho uma amiga com 40 anos que nunca conseguiu engravidar. Já
fez vários tratamentos, fertilizações,etc e sempre sem sucesso.
Numa discussão acesa sobre o aborto, do qual ela é absolutamente
contra e eu absolutamente a favor, cheguei á triste conclusão da razão
que leva alguns portugueses a votarem contra o aborto ou em defesa
da vida , da liberdade ou o que quer que lhe queiram chamar:
A HIPOCRISIA!!!
Passo a explicar:
Ao justificar a sua opinião, a minha querida amiga, argumentava que
não estava para pagar ás outras mulheres para fazerem abortos,
quando ela não conseguia sequer engravidar! Ao que eu argumentei,
inteligentemente, achei eu, que só voltaria a discutir este assunto com
ela, no dia em que ela tivesse a generosidade de adoptar uma criança.
Bem, a sua resposta foi, “Não vou ficar com o lixo que os outros
deitam fora!“... Ficaram chocados?! Eu também fiquei! Mas não por
muito tempo...resolvi dissecar as palavras da minha amiga.
Ela tinha toda a razão! Era o que mais faltava, a coitada ter que ficar
com o lixo dos outros! Verdade? Não é nada ético pensar assim, pois
não? Pois não!
Mas agora raciocinem comigo. Não são os portugueses os maiores
defensores do embrião, do feto, da vida?! Não é tão estranho, então,
que hajam crianças em instituições, abandonadas, com fome, sem
alguém que as ame incondicionalmente?
Então, quando saem da barriguinha da mãe já não são vidas a
proteger?
Pois...uma criança dá trabalho, não é? Vamos pedir as esses senhores
e senhoras por favor que dividam dinheiro, afecto e tempo, com essa
vidas que eles lutaram tanto para preservar! Ou será que agora que
estão fora da barriguinha das mamãs já são só mesmo o lixo que os
outros deitam fora?
Sandra Mendonça
mailto:sandrinhamm@gmail.com

1:06 da tarde  

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